quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Terra Estrangeira

Vestido de branco parecia um anjo na urbe tingida de cinza e negro. Bebia cachaça e sorria largo sem largar o antigo violão, no qual não sabia dedilhar. Arranhava sim uma canção, ela falava da terra estrangeira que tinha deixado e carregara desde então no peito. Nunca me olhava, era verdade.

Ele se tornou objeto da minha mais miserável cobiça, assim como todo o espírito santo que ousou atravessar meu caminho.

Quando isso aconteceu, era verão. O sol de cinema latino incidia fechos sobre as coisas latinas. Os vídeos, os sons, o banho de mar,as estrelas infinitas da praia deserta, o amor passageiro apequenado pelo passado cansado de futuro promissor. Ali percebi que não podia não fazer nada. Tracei um plano para te tirar do conformismo apostólico, resgatar dentro de ti alguém que não eras.

Em cada aparição anunciada, meu espanto aumentava. As palavras de tormento, de fazer virar o pensamento até esgotar a inquietude que me tomava. De tanto retornar a cada boteco, cada lugar que debilmente me instalava, um dia quem apareceu fui eu. Desse dia não restou nada.

Recordações somadas,foi o que valeu. Só. As palavras novamente, as balas de canhão a me embalar voltaram a disparar. O sopro dele paralisou o tempo. Por mais que hoje me volte aos mistérios do Norte, a terra estrangeira entoada pelas cordas de uma velha viola agora vivem para sempre em mim.

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